18 - Pausa para uma livre resenha

TÍTULO DA OBRA: CORDILHEIRA
AUTOR: DANIEL GALERA
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS, 2008.
PANO DE FUNDO: BUENOS AIRES


     Alguns livros me arrebatam de tal forma que quero entrar dentro deles, escorregar pelas suas páginas, fazer parte das palavras escritas ali, ser um de seus personagens. Livros desse tipo, costumo ler rapidamente. Um, dois, três dias e jaz. Fim das páginas. Uma vez terminada a leitura, me dá vontade de chorar, pois sei que a partir dali ficarei órfão e solitário na ilusão que nós, eu e o livro, geramos. Mesmo me sentindo abandonado e sozinho, porém, continuo por mais um tempo em estado de arrebatamento. Vou trabalhar vivendo a atmosfera do livro, falo com as pessoas pensando no livro, entro em bares e festas imaginando que os personagens do livro poderão estar ali. Pior...Quero agir como imagino que o personagem que escolhi pra representar agiria em certas situações do meu cotidiano. Livros assim são como amores fugazes.
     CORDILHEIRA, de Daniel Galera (recomendo também MÃOS DE CAVALO, do mesmo autor), que li agora, entre 27 e 28 de dezembro, me arrebatou de forma inédita. Conta a história de Anita van der Goltz Vianna, uma escritora precoce que desistiu da profissão e agora quer ser mãe a qualquer custo. Devido às negativas de seu namorado em engravidá-la ela o abandona em São Paulo e cede ao convite de uma editora argentina que recentemente publicou seu livro em espanhol, partindo para Buenos Aires, a fim de falar um pouco sobre sua obra, a fim de dar um novo rumo à sua vida.
     Narrado na maioria do tempo em primeira pessoa, na voz feminina de Anita, a história me fez conhecer uma Buenos Aires diferente da que sempre vi e imaginei e isso fez a cidade me parecer mais fascinante ainda. Me apaixonei absolutamente pelo livro, pela metrópole porteña que ele desvenda e pela personagem-narradora. Passei uma noite em claro na sacada do apartamento onde moro, tomando latas e mais latas de Bavária Premium, olhando as ruas de Ribeirão Preto, tentando encontrar Anita em alguma calçada, em alguma janela. Procurei por ela em bares e restaurantes, tentei imaginá-la no corpo das mulheres por quem me apaixono a todo instante e me desinteresso depois, mas não a encontrei.

     Um grupo de personagens do livro, o argentino José Holden e sua turma, levam ao extremo o lance de “viver” um personagem. Mas diferentemente de mim, não “vivem” personagens de livros que leram, mas de livros que eles mesmos escreveram. Holden, assim como o personagem de sua obra, procura uma mulher que tenha coragem de fazer determinado sacrifício por amor. Ao ler o livro de Anita tem certeza de que ela é a pessoa que fará esse sacrifício. O interessante é que no livro escrito por ele mesmo seu próprio personagem não encontrou tal mulher.
     Holden precisa de Anita para levar a cabo o desejo que nem seu personagem conseguiu realizar. Anita quer ficar grávida e acha que pode usar Holden para isso. O destino se encarrega de fazer com que os dois se conheçam e se envolvam amorosamente. Acompanhar as andanças desse casal pela noite de Buenos Aires tira o fôlego de qualquer um, mexe na rotina de qualquer pessoa. Holden, eu deveria estar aí no seu lugar com uma mulher de nome Anita, ou de qualquer outro nome.
     Leia CORDILHEIRA! Mas quando o fizer, desconsidere tudo o que leu nessa resenha sem pé nem cabeça. Faça tua própria viagem. Ande pela cidade com Holden e Anita, sofra pelas mazelas dos dois. Confunda a arte com a realidade, a fantasia com a vida-real, mas esqueça isso que aqui escrevi. No fundo eu só queria desabafar. Quando estou apaixonado, não consigo guardar segredo.

FELIZ 2011!

17 – “Mi Buenos Aires Querido”

“...pra mim Buenos Aires sempre foi algo mítico. E eu não queria matar essa quimera, mas aumentá-la de tamanho.”

17/05/2010

    Na segunda-feira de manhã, após guardar na mala as meias e cuecas limpas e secas, e de dispensar as medialunas do café-da-manhã, nos largamos felizes de General Villegas. Felizes por termos conhecido a charmosa cidade natal de nosso hermano Fernando e felizes por que naquele dia ainda, por volta de 3 ou 4 horas da tarde, chegaríamos em Buenos Aires.
    Conforme avançávamos pela estrada, o tempo ia ficando mais nublado. Paramos em dois postos de gasolina para tentar completar o tanque mas, por incrível que pareça, um deles não aceitava cartão e o outro só aceitava de uma bandeira que não possuíamos. Estávamos zerados de pesos argentinos e tivemos que entrar numa cidadezinha para tentar cambiar nossos reais no Banco de la Nación local. O banco não fazia câmbio, mas pudemos sacar pesos no caixa eletrônico.
    Chegamos na capital argentina um pouco após o horário que pensávamos. Entramos pelo acesso oeste e a primeira impressão da cidade foi fantástica. As placas iam passando e minha memória resgatando coisas que eu não tinha vivido, mas lido, ouvido, imaginado, inventado. Lembro de placas indicando os bairros de Caballito, Mataderos, centro. Placas indicando as cidades de Avellaneda e Lanús. Um outdoor gigante com os dizeres: “ser hincha es ser de Racing”. Passamos ao lado do estádio do Velez Sarsfield, carrasco do São Paulo na Taça Libertadores de 1994. Tentei tirar uma foto pra enquadrá-la posteriormente e dar de presente pro Marcel, mas não deu tempo.


Placas e sinalizações.

    A Avenida Nove de Julho estava parcialmente interditada por conta dos preparativos para a festa do Bicentenário da Independência Argentina, então demoramos a chegar ao “El Firulete Downtown”, hostel em que ficaríamos. Deixamos o carro num estacionamento próximo e partimos com as malas para o hostel mencionado, que na verdade é um prédio com vários andares. Pra subí-los, nada de elevadores, só mesmo por uma escada em caracol, na raça. Trash.
    Marcel e Flavinha, nossa amiga e prima do professor Fernando, que estava em Buenos Aires também, vinham se comunicando algumas vezes por e-mail durante a nossa viagem e tinham combinado que nos encontraríamos no Hostel Milhouse, em que ela estava, para jantarmos e fazermos alguma balada juntos.  Pois é, jantamos num restaurante bem legal, meio tradicional...Escolhemos a parrillada, que nosso amigo Fernando tanto indicara, mas não nos demos muito bem e acabamos deixando metade do prato. Tinha de tudo ali, desde as carnes “normais” até rim de boi, linguiça de sangue de boi e otras cositas. Aquilo é uma verdadeira mistureba...coisa de argentino verdadeiro mesmo...o brasileiro metido a hermano aqui sucumbiu diante dessa prova e resolveu vestir a camisa amarelinha de novo.

O brother tranquilão, a Flávia com seu bonito sorriso e eu com os olhos arregalados.

    Mais à noite, após digerirmos parte do jantar, fizemos uma pré-balada num outro hostel da rede Milhouse e depois partimos pra balada verdadeira, que ficava logo em frente. Ali, além de desfrutar da agradável companhia de nossa amiga Flavinha, pudemos conhecer alguns figurassas que estavam hospedados no mesmo lugar que ela: um carioca gente boa (coisa rara), torcedor do grande Botafogo (se fosse flamenguista eu daria um jeito de matá-lo e escondê-lo em algum canto escuro da balada); dois franceses (salvo engano), um deles estava com o braço fudido, dolorido (acho que tinha sofrido uma queda) mas não desistia da noitada, o outro, um de óculos, posso dizer que foi um dos caras mais engraçados que conheci na viagem.   Além desses personas, conhecemos um brasileiro chamado Anderson que fez alguns rolês conosco nos dias que se seguiram. Pudemos presenciar também cenas bizarras de quase sexo explícito entre homem/mulher e entre homem/homem também. Que balada doida...


18/05/2010


    Acordei cedo na terça-feira e saí sozinho para andar sem rumo pelo centro de Buenos Aires. Andei que nem bobo pela Calle Florida, ansioso demais por conhecer tudo. Fui a uma casa de câmbio trocar meus reais por pesos argentinos. Encontrei o Marcel, que havia levantado um pouco mais tarde, em frente à Casa Rosada, tirando umas fotos. Lembro até hoje que bateu uma forte alegria ao vê-lo e um pouco de arrependimento por às vezes ser individualista e sair fazendo as coisas sozinho, sem esperá-lo.


La Casa Rosada.

    Comemos algo qualquer e fomos até o final da Florida para fazermos um City Tour a bordo dos famosos ônibus de dois andares da capital argentina. Passamos pelos prédios históricos do centro, por Retiro, Recoleta, fomos até San Telmo, La Boca, Puerto Madero e finalizamos novamente no centro.

    Eu carregava nas mãos o guia de viagens “O melhor de Buenos Aires” que havia dado à Flavinha de presente e que ela educadamente me devolveu (por livre e espontânea vontade) na noite anterior. Eu olhava o mapa do guia, as ruas ao redor e minha memória buscava em seus arquivos mistos, formados metade por histórias lidas/ouvidas/assistidas sobre Buenos Aires e metade por histórias inventadas por mim mesmo, em minhas noites de insônia, em minhas tardes de devaneio... Graças a esse complexo sistema de arquivamento, Buenos Aires não era novidade pra mim. Mas como era emocionante reviver essas histórias não vividas. Como era gracioso e inacreditável estar ali. Não que seja a coisa mais difícil do mundo ir pra lá, mas pra mim Buenos Aires sempre foi algo mítico. E eu não queria matar essa quimera, mas aumentá-la de tamanho.

    À noite decidimos ir até o bairro Palermo fazer uma balada. Levamos conosco o grande brother Vladimir, o Vlad, um brasileiro de Rondônia que conhecemos no hostel, torcedor do pequenino Internacional de Porto Alegre. Ele estava viajando sozinho, e dali pra frente se tornou o terceiro integrante da Trip, como veremos. Foi conosco também outro brasileiro que conheci no hostel, do qual não recordo o nome (Marcel, você que teve uma relação mais íntima com o tipo se lembra o nome dele???).


    A balada estava muito bacana, cheia de gente. O único problema é que o tipo de quem não me lembro o nome, após tomar umas botellas começou a se revelar um grande Rick (apelido que demos aos afeminados que conhecemos ao longo da viagem, e não foram poucos, em referência a certo jogador de futebol). Primeiro mirou Marcel, que educadamente o dispensou, depois mirou a mim, que estupidamente quase o expulsei do lugar, e por último mirou o Vladimir, que era bombeiro. Aliás, quando Rick soube que Vlad era bombeiro seus olhos quase viraram de tanto brilhar.

    Outra ocorrência desagradável foi nosso encontro com dois torcedores do Club Atlético Velez Sarsfield, eterno algoz do São Paulo Futebol Clube . Um deles utilizava uma camisa regata comemorativa de alguma festa de Ribeirão Preto. Ele disse que havia vindo pra cá (pro Brasil) tempos atrás. O problema é que Marcel estava com o cachecol do Independiente e os dois malucos grudaram na gente, cantando as músicas do Velez, cuspindo, gritando e ainda quiseram afanar o cachecol do brother. Fora isso a balada foi 100%. E a madrugada de sono também, afinal amanhã seria o dia do futebol., visitaríamos o grande Racing em Avellaneda e depois o estádio La Bombonera, do médio Boca Juniors.


Eu e o brother. Ao fundo, o Obelisco. Quando o Racing foi campeão em 2001, teve gente escalando esse negócio aí.


Mi Buenos Aires Querido
Composição: Carlos Gardel e Alfredo Le Pera

Mi Buenos Aires querido,
cuando yo te vuelva a ver,
no habrá más penas ni olvido.
El farolito de la calle en que nací
fue el centinela de mis promesas de amor,
bajo su inquieta lucecita yo la vi
a mi pebeta luminosa como un sol.
Hoy que la suerte quiere que te vuelva a ver,
ciudad porteña de mi único querer,
oigo la queja de un bandoneón,
dentro del pecho pide rienda el corazón.
Mi Buenos Aires, tierra florida
donde mi vida terminaré.
Bajo tu amparo no hay desengaño
vuelan los años, se olvida el dolor.
En caravana los recuerdos pasan
como una estela dulce de emoción,
quiero que sepas que al evocarte
se van las penas del corazón.
Las ventanitas de mis calles de Arrabal,
donde sonríe una muchachita en flor;
quiero de nuevo yo volver a contemplar
aquellos ojos que acarician al mirar.
En la cortada más maleva una canción,
dice su ruego de coraje y de pasión;
una promesa y un suspirar
borró una lágrima de pena aquel cantar.
Mi Buenos Aires querido....
cuando yo te vuelva a ver...
no habrá más penas ni olvido...


Avellaneda, La Boca, San Telmo...

19/05/2010

    Saímos logo de manhã rumo à Avellaneda, eu, Marcel e nosso amigo Vlad, para conhecermos os estádios do Racing e do Independiente, que ficam bem próximos um do outro. O motorista, aparentemente mau humorado, foi bacana, deu um sinal no ponto onde deveríamos descer e explicou rapidamente como chegarmos ao Racing. Meu coração bateu forte quando avistei el cilindro de Avellaneda, o campo do glorioso Racing Club, la Academia.
    O estádio estava interditado para as reformas de meio de ano, pois o campeonato havia terminado naquela mesma semana. O pessoal da portaria não queria me deixar passar, mesmo eu falando de todo amor que sentia pelo clube. Marcel entrou na conversa, esperneou, disse: "amigo, você não está entendendo, esse cara aqui é o maior torcedor do Racing do Brasil, ele chora por esse time e veio de longe só para visitá-lo". O porteiro indicou uma porta, pedindo que eu falasse com o responsável. Fui até lá sozinho. O cara tomava chimarão e estava iredutível, mas deve ter lido no meu olhar que eu era um Racinguista legítimo, de coração azul e branco, de alma acadêmica, e me deixou entrar no estádio para tirar umas fotos.
    O estádio estava meio abandonado, mas foi lindo estar ali, imaginar as partidas que eu acompanhara pela internet, relembrar coisas que eu havia lido. O estádio Presidente Perón é o segundo maior da Argentina, perdendo apenas para o Monumental de Nuñes, do River Plate. Mais abaixo explicarei como nasceu a paixão por esse clube maravilhoso da cidade de Avellaneda, região metropolitana de Buenos Aires.
    Tentamos depois visitar o estádio do Independiente, o Rojo de Avellaneda, que fica a 50 metros do Racing, mas estava interditado também e não nos desgastamos insistindo em entrar ali, aliás, creio que eu não entraria nem se estivesse aberto, esperaria os meninos do lado de fora. Entrar no estádio do rival? Jamais!


Estádio Presidente Perón, el Cilindro de Avellaneda. Alumbramento total. Nenhum time representa tão bem a Argentina. Pelas cores, pela paixão da torcida!

A paixão pelo Racing

    Já não é segredo para quem me conhece a admiração espontânea que nasceu e vive em mim em relação ao futebol e às torcidas argentinas. Lembro-me vagamente do Racing conquistando a Supercopa dos campeões da Libertadores em 1988, mas não foi esse triunfo que determinou minha escolha pelo time azul e branco de Avellaneda. Em 1999 o clube foi à falência, chegou a ser fechado. Cerca de 30 mil torcedores invadiram o estádio para apoiar o clube (detalhe, a invasão ocorreu num dia de semana). Nessa mesma época, o time albiceleste perdeu de 7 a 0 para o Palmeiras pela Copa MERCOSUL no Parque Antarctica.  Os cerca de mil torcedores vindos de Avellaneda, apesar da derrota vexatória, cantaram mais que os palmeirenses o jogo inteiro e lotaram o estádio de Avellaneda no jogo seguinte, não me lembro contra que time. Aquela fidelidade encantou meu coração. O amor havia sido semeado.
    No ano 2000, li em algum jornal sobre os grandes tabus do futebol mundial. Falava sobre o tabu corintiano, quando o alvinegro ficou 23 anos sem ganhar nenhum título. Falava também do Racing, que estava há 34 anos sem ganhar o campeonato argentino. O amor semeado brotou. Em 2001 acompanhei todo o campeonato, jogo a jogo, levando fé que o tabu acabaria e no dia 27/12/2001, 35 anos depois, o Racing sagrou-se campeão! La Academia albiceleste triunfara novamente. Peguei minha bicicleta e saí andando pelas ruas de Araraquara com vontade de festejar. Do fundo do coração, acredito que minha torcida aqui do Brasil foi determinante naquela conquista. E até hoje acompanho o Racing quase tanto quanto acompanho o Corinthians. Um confronto entre os dois dividirá meu coração, certamente.



    De Avellaneda ao bairro La Boca é um pulinho. Andamos pelo caminito, falamos com as pessoas, compramos regalos, visitamos o estádio La Bombonera, tiramos fotos com a dançarina de tango...faltou pegar seu telefone. Passamos ainda pelo charmoso bairro San Telmo onde conhecemos o Parque Lezama e paramos para tomar um chopp na bela Plaza Dorrego.

    À noite Marcel foi com o Anderson, que havíamos conhecido na balada do dia 17, assistir o São Paulo ganhar do Cruzeiro por 2 a 0 e passar pra semifinal da Taça Libertadores. Eu fiquei no hostel torcendo contra, mas não adiantou.

La Bombonera no tiembla, late: A Bombonera não treme, pulsa!

El Caminito, la Boca.

Casas coloridas, bonecos gigantes. Alegria, alegria! Isso é La Boca, isso é Argentina!


Fútbol y marihuana. A ver se combina?

20/05/2010

    Passamos a manhã e a tarde andando pelo centro e por Puerto Madero. Estávamos os quatro: eu, Marcel, Vlad e Anderson. Resolvemos algumas questões burocráticas: cambiamos dinheiro e compramos as passagens para o Buquebus, uma super balsa, que nos levaria de Buenos Aires a Colonia del Sacramento, no Uruguay.

    A tardinha voltamos correndo ao hostel para participarmos da excursão que iria até a cidade de Quilmes, ao estádio de futebol dali, onde jogariam Estudiantes de la Plata e Internacional de Porto Alegre pelas quartas-de-final da Libertadores. Eu estava quebrado de grama, mas não iria ficar de fora de um jogo desses, estando ali tão pertinho. A maioria da galera da excursão era europeu. De sulamericano só eu, Marcel e Vlad, torcedor do Inter. Detalhe, iríamos ficar na torcida do Estudiantes.
    A cidade de Quilmes fica mais ou menos na metade do caminho entre Buenos Aires e La Plata. Devia estar havendo alguma reforma no estádio de La Plata, e por isso o Estudiantes resolveu mandar seu jogo em Quilmes. No caminho pro estádio passamos pela famosa cervejaria da cidade. A torcida do Estudiantes (los pincharratas) estava ouriçada, confiante.
    O guia da excursão, um sujeito bem gente boa chamado Júlio, torcedor do Boca Juniors, logo percebeu que eu e Marcel éramos ratos de arquibancada e se aproximou de nós. Trocamos várias ideias, ele disse que conhecia o Brasil e que aqui torcia pro Corinthians e pro Flamengo. Perguntou se no Brasil se fumava maconha nos campos de futebol. Eu disse que sim. Ele disse que não, que na Argentina se fumava muito mais, era muito mais comum e que a maconha brasileira era de péssima qualidade. Perguntou se gostaríamos de dar uma pitada. Eu não perderia a chance de fumar um porro em pleno estádio de futebol, em plena Argentina. Respondi: "a mi me gustaría". Fomos pra baixo do segundo lance da arquibancada no intervalo do jogo e demos dois peguinhas cada um, eu e o brother. Ainda ficamos com um restinho pra fumar depois, se quiséssemos.
    O bagulho era forte mesmo. Fazia muito tempo que eu não fumava, aliás tinha resolvido nunca mais fumar (nunca fui viciado, nem de fumar muito, é bom registrar). Fiquei o segundo tempo inteiro doido. Parece que o tempo voou. O jogo estava 2 a 0 pro Estudiantes, mas no finalzinho o Inter descontou e acabou eliminando os donos da casa. Fiquei deprimido, um pouco pelo jogo, um pouco pela marihuana. Ela sempre me deixa assim.
    De volta a Buenos Aires, nos despedimos do Júlio prometendo voltarmos e fazermos um asado em sua casa. Encontramos o Anderson e fomos todos do quarteto para uma balada no hostel Milhouse, onde ele, o Anderson, estava hospedado. Nossa amiga Flavinha já tinha ido embora de volta ao Brasil. No caminho pra baladinha destrinchamos o resto do porro. O tal do Anderson, metido a malandrão, mal chegou na festinha e começou a passar mal. A única frase que ele conseguia pronunciar, em português errado, era: "que que cêis deram pra mim fumá? que que cêis deram pra mim fumá?". O doido ficou estirado numa poltrona enquanto tentávamos curtir a baladinha. Não prolongamos muito a noite porque pela manhã teríamos que partir.


Um autêntico hincha (torcedor) argentino?!?


A torcida do Estudiantes de La Plata. Los Pincharratas.



21/05/2010

Partimos cedo de buquebus rumo ao Uruguay, rasgando o rio da Prata. Faltou conhecer muita coisa em Buenos Aires, faltou inspiração pra escrever mais e melhor sobre essa fascinante cidade. Deixo abaixo a letra de uma música, um eletrotango, estilo musical que, acredito, representa bem a união da face moderna com a face histórica de la ciudad porteña.

Eletrotango ou Tango Eletrônico: conheça Bajofondo Tangoclub e Gotan Project. O som de ambos é maravilhoso, eu garanto.

(vale a pena ver a letra ouvindo a canção)

El mareo
Bajofondo y Gustavo Cerati

Avanzo y escribo
decido el camino
las ganas que quedan se marchan
con vos

Se apaga el deseo
ya no me entrevero
y hablar eso
que se me iba
mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

El agua me ciega
hay vidrio en la arena
ya no me da pena
dejarte que un adiós

Así son las cosas
amargas borrosas
son fotos veladas
de un tiempo mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

El aire me ciega
hay vidrio en la arena
ya no me da pena
dejarte un adiós

Así son las cosas
amargas borrosas
son fotos veladas
de un tiempo mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar.


16 – Volver




14/05/2010

Destaque:

SODA STEREO – Banda argentina formada em 1982 por Gustavo Cerati, Hector Bosio e Charly Albert. Permaneceu em atividade até 1997. Considerada por muitos a maior banda argentina de rock in roll de todos os tempos e certamente uma das principais da América Latina. Em 2007 seus integrantes se juntaram novamente para fazer uma mega-turnê continental, chamada Me verás volver que, me parece, não passou pelo Brasil. Infelizmente em nosso país a barreira idiomática dificulta a entrada da cultura hispano-americana.

O líder da banda, Gustavo Cerati, sofreu um AVC em maio desse ano (justamente quando viajávamos por seu país) após fazer show em Caracas e ainda se encontra em estado crítico, respirando através de aparelhos. Vale uma oração por ele!



      A sexta-feira amanheceu fria e chuvosa. Deu vontade de ficar dormindo, mas era hora de voltar à Mendoza e reencontrar nossas amigas. Era hora de volver a Argentina. A travessia das cordilheiras foi tensa. Conforme íamos subindo, a chuva se transformava em neve. Pouco antes de chegarmos aos caracoles paramos em uma oficina de beira de estrada que vendia cadenas (correntes que devem ser colocadas nos pneus para o carro não escorregar na neve) para perguntar se as que tínhamos serviam. O senhor que nos atendeu tremia de frio e fumava um cigarro atrás do outro. A friaca estava absurda e nós ali, naquela oficina surreal, no meio do nada, no meio das Cordilheiras dos Andes. Cena de filme. Tenho saudade daquele momento, do frio gostoso que passei ali fora do carro, daquele velho chileno mal agasalhado que soltava a fumaça do cigarro pela boca ao falar. Ele disse que nossas cadenas não serviam e nos mostrou as “verdadeiras”, ensinando-nos a usá-las. Cobrou um absurdo, mas como estávamos sem pesos chilenos, ele aceitou o pagamento em peso argentino e ao fazer o câmbio se embananou e acabou cobrando um pouco menos. Mesmo assim ficou caro e no fim das contas acabamos nem usando as ditas-cujas.

      Alguns trechos da estrada estavam parados, por conta da neve e de obras. Passavam primeiro os carros que vinham da Argentina, enquanto os que iam pra lá (como nós) esperavam, depois o contrário. Fomos informados que se a nevasca continuasse daquele jeito, a fronteira seria fechada por tempo indeterminado. Depois, já em Mendoza, confirmaram que ainda pela manhã daquela sexta-feira realmente tinham fechado a fronteira, provavelmente pouco depois de termos passado. Disseram também que em algumas ocasiões o fechamento dura dias. Ou seja, por pouco não ficamos presos no Chile.
      A passagem pela aduana argentina foi tranqüila e mais rápida que pela chilena. Assim que passamos pro lado argentino a nevasca diminuiu e o céu até abriu um pouco, mas não estava tão azul como na ida. Ao final do entardecer dormi e só acordei quando já estávamos quase chegando em Mendoza perto das oito da noite.




Numa das curvas dos caracoles, um novo Libertador da América!


Em outro ponto das cordilheiras, o outro novo Libertador da América!


Guardamos o carro no mesmo hotel em que tínhamos ficado na estada anterior. A galera da recepção ficou feliz ao nos ver. Estávamos deixando amigos por onde passávamos.
           Saímos pra comer algo num dos restaurantes da Peatonal Sarmiento e aquele pra mim foi o melhor jantar da viagem:  pelo atendimento; pela decoração do local; pela bela e sorridente atendente que percebeu nosso resfriado e escreveu num papel o nome de um remédio que, segundo ela, derrubaria até a gripe equestre;  pelo prato escolhido, Bife de Lomo...maravilloso. Vinho pra acompanhar, claro!

 No horário combinado as meninas nos pegaram no hotel e nos levaram a um bar temático de futebol e depois a um boliche. Fiquei impressionado, desacreditado de como nos tornamos amigos daquelas garotas, de como nos sentíamos confortáveis, à vontade, seguros, em casa, perto delas. Passamos grande noite, regada a Cerveza Andes y Quilmes e ao maldito Fernet que tanto amamos (Belén que o diga Bobo). Vale lembrar que eu e Marcel causamos na balada quando o DJ tocou “De música ligera”, do SODA STEREO. Cantamos alto, gritando, emocionados. Demos o nosso melhor espanhol Jóia.Segue abaixo a letra da canção que ganhou duas versões em português, uma dos Paralamas do Sucesso (De música ligeira) e outra do Capital Inicial (À sua maneira). Na minha opinião a versão dos Paralamas é melhor, além de ser mais fiel à original. Aliás, se tem alguém no Brasil que curte e tenta divulgar a música e principalmente o rock argentino este alguém se chama Herbert Vianna, vocal do Paralamas, de longe a banda brasileira mais conhecida na Argentina.



De música ligera
(Cerati/Bosio)

Ella durmió
Al calor de las masas
Y yo desperté
Queriendo soñarla

Algún tiempo atrás
Pensé en escribirle
Que nunca sortié
Las trampas del amor

De aquel amor
De música ligera
Nada nos libra
Nada mas queda

No te enviaré
Cenizas de rosas
Ni pienso evitar
Un roce secreto

De aquel amor
de música ligera
Nada nos libra
Nada más queda

De aquel amor
de música ligera
Nada nos libra
Nada más queda
Nada más queda
Nada más queda
Nada más queda





Compañeros de viaje, hermanos de corazón! Y la Quilmes para sellar todo!


Belén, eu, Marce e Marcel. E Rocio, que tirou a foto! Que grandes pessoas!



15/05/2010

Daquele sábado frio e chuvoso, guardarei sempre na minha memória:

- A aula de Hospitalidade que recebemos das mendocinas;
- O passeio ultra-vip pela Bodega Trapiche;
- A aula de Truco em español, a roda de mate e o intercâmbio músico–cultural (Argentina/Brasil, Araraquara/Mendoza) que fizemos.
- A gratidão e a amizade pelas chicas de Mendoza.

                                              

Uma aula de Hospitalidade            

No fim da manhã de sábado, perto das 11h00, depois de uma madrugada curta pra curar uma ressaca nem tão grande assim, Rocio passou para nos pegar no hotel. Ela estava com seu irmão Emanuel, grande figura, que nos cumprimentou calorosamente com um abraço, como costumam fazer os argentinos com seus amigos. A manhã estava fria, o que era normal, e chuvosa, o que era anormal. “Nós, brasileiros, trouxemos chuva à Mendoza” - brinquei com eles. Após deixar o irmão na farmácia onde o mesmo trabalhava, Rocio partiu conosco para sua casa em Guaymallén, onde fomos recebidos muito educadamente por sua mãe, seu pai, seu irmão mais novo e Belén, que nos esperava. Marce chegou logo depois.
Confesso que estava envergonhado e sem graça pela atenção e receptividade que havíamos recebido das meninas, e agora de sua família. Pensei na minha forma de lidar com as pessoas, tanto com os mais próximos quanto com os estranhos. Não sei se eu teria maturidade e espiritualidade para receber novos conhecidos com tamanha hospitalidade. Creio ter tido verdadeira aula naquele sábado frio e chuvoso. Uma aula pra alma. Algo inesquecível, eterno no coração.
Como chovia, não foi possível fazermos o asado que tínhamos combinado na semana anterior. Então, Belén encomendou algumas empanadas fantásticas, feitas, se me recordo bem, pela mãe de uma amiga. Almoçamos em grande estilo. As empanadas estavam realmente muito boas; o ambiente extremamente familiar, traquilo, com muita energia positiva rolando; a companhia das garotas... dispensa comentários.

           
Bodega Trapiche

Pelo início da tarde fomos fazer a visita na Bodega Trapiche, local onde Belén trabalhava. Marcel, desde a fase de planejamento da viagem já dizia querer conhecer uma bodega em Mendoza, mas jamais imaginou que faria uma visita mais que VIP, como foi a nossa.
Passamos na casa de Carolina (é esse mesmo o nome dela, Belén?), amiga e colega de trabalho de Belén, que guiou nosso passeio. Como a Bodega estava fechada, não havia funcionários nem outros visitantes ali e pudemos vasculhar cada pedaço daquela que é uma das maiores e certamente a mais especial vinícola da Argentina e contar com as explicações de Belén e Carol sobre todo o processo produtivo que ocorre ali.  


Aula de Truco, roda de mate e intercâmbio músico-cultural

Voltamos à casa das meninas e, ainda emocionados e encantados com o passeio pela bodega, formamos uma roda de mate comandada pela graciosa Marce. Enquanto tomávamos o amargo, o didático Marcel ensinava, em español, as argentinas a jogarem o truco brasileiro, com direito aos gritos de “truuuuco, ladrão” / “seeeeis, reboque de igreja velha”. Deu tempo ainda de trocarmos figurinhas musicais. Rocio, ágil como ninguém em seu notebook, gravava música argentina da melhor qualidade em meu pen drive, na pasta que ela mesma criou e denominou “musica argentina para nuestros amigos brasileros”. Em contrapartida, gravava no seu note alguns cd’s meus e principalmente do Marcel, do bom e velho rock nacional e estrangeiro.

À noite, após troca de presentes (vinho para nós e camisas de São Paulo e Corinthians para elas) ainda fizemos a saideira num bar, tipo um PUB Irlandês...
           
* Registro aqui os agradecimentos pelas três garrafas de vinho que ganhamos da família Tudela. Sempre tomamos uns tragos em ocasiões especiais e nos lembramos carinhosa e saudosamente de Mendoza. Pena que as botellas estão acabando...

Algumas experiências nos fazem envelhecer dez anos ou mais em curtos períodos de tempo, pro bem ou pro mal, já dizia Gessinger. O que passamos em Mendoza certamente nos fez crescer espiritualmente alguns anos-luz. Nossa gratidão e consideração são eternas!



16/05/2010

General Villegas

Domingo pela manhã acordamos sem nenhuma ressaca, mas com alguma tristeza por termos que deixar Mendoza. Nos despedimos dos funcionários do hotel não sem antes tomarmos o típico café da manhã composto por chá e medialunas. Estávamos enjoados desse cardápio, mas não nos furtamos de fazermos a última refeição em Mendoza.
Nossa próxima parada seria General Villegas, pequena cidade da província de Buenos Aires com cerca de 30 mil habitantes, terra natal de nosso amigo e professor argentino, Fernando. Iríamos levar algumas lembranças dele para sua mãe, que ainda morava ali.
Diferentemente do que ocorreu na maior parte da viagem, Marcel dormiu durante um bom pedaço do trajeto e me deixo só ao volante, guiando pelos pampas argentinos, sob um céu de brigadeiro, ao som do CD Racional, de Tim Maia, o qual ouvi umas três vezes em sequência.
Chegamos à noite em Villegas e facilmente encontramos a casa da mãe de nosso amigo, que nos recebeu alegremente. Ela havia preparado um jantar para nós: purê de batata e bife a milanesa. Jantamos e conversamos enquanto o noticiário da TV local falava sobre um vídeo pornô caseiro gravado naquela pacata cidade que contava com a suposta participação de uma menor de idade. Estava ocorrendo o julgamento dos envolvidos, o que dividiu a opinião da população. Parte do povo entendia que não se tratava de crime, afinal de contas a menina envolvida na questão, embora fosse menor, consentira na gravação; a outra parte dizia que devido a menina ser menor de idade o fato deveria ser considerado crime e ponto final. E dá-lhe passeata de protesto nas ruas, coisa tão rara no Brasil e tão comum na Argentina.
Entregamos as encomendas de Fernando à sua mãe, carregamos a caçamba de alguns pacotes que ela estava enviando a ele e fomos dar uma volta para conhecer a cidade que nos impressionou pela estrutura, pela arborização, pelo asfaltamento regular. Paramos num hotel a beira da pista para passarmos a noite. Ali pude lavar minhas cuecas e meias sujas, acumuladas ao longo de quinze dias de viagem, e deixá-las secando próximas à calefação. E não é que na manhã seguinte estavam sequinhas! Fala aí brother, você ficou de cara com a improvisação do “escoteiro” aqui, anhhh Riso???

15 – Viña, Valpa y Santiago

Ainda em 10/05/2010...

Viña Del Mar

- cidade chilena litorânea, muito freqüentada por turistas no verão; no outono/inverno, só por mim, pelo Marcel e mais meia dúzia de loucos; Convencido
- conhecida como La Ciudad Jardín;
- possui, no total, cerca de 300 mil habitantes;
- perto da cidade há muitas plantações de vinho, o que explica a origem do nome, Viña del Mar.
- por possuir construções mais modernas do que Valparaíso, Viña foi menos afetada pelo terrível terremoto (8,8 graus) que arrasou parte do Chile em 27 de fevereiro desse ano.


Chegamos a Viña Del Mar quase ao anoitecer (nesse mesmo dia, pela manhã, soubemos depois, houve um tremorzinho de terra suave que foi sentido em Viña e Valpa, de 4 graus na escala Richter; Deus me livre). O tempo estava frio, nublado, feio, mas a cidade nos pareceu bem bonita e alegre. As ruas e avenidas estavam abarrotadas de veículos. Os motoristas, muito loucos, buzinavam por qualquer motivo. Cadê os chilenos super civilizados???
O GPS não tinha o mapa do Chile, então, tivemos que ir “na raça”, perguntando o caminho. O hostel em que iríamos posar, o Che Lagarto, ficava na calle Diego Portales, não sei que número... Pedimos informação pra uma chilena nórdica (assim a classificaria o Marcel), uma loira descomunal que dirigia um carro mais descomunal ainda. Fiquei até com vergonha de falar com ela, mas falei, e até que ela explicou tudo direitinho.
Fomos andando pro rumo indicado e acabamos encontrando outra pousada no caminho, o HOSTAL (com A mesmo) CRISTINA. Logo de primeira vimos que não tinha estacionamento pro carro, mas como ficava em uma rua estreita e pouco movimentada, imaginamos que não teria problema largar a pick-up ali mesmo. Desci pra perguntar como funcionava o “esquema”. Um sujeito simples e simpático, chamado Luis (que apelidamos de Luisão) explicou que a maioria dos hóspedes ali era estudante, mas que poderíamos ficar uns dias. Quem cuidava da pensão eram os donos mesmo, um casal de meia idade, e o Luis era, acho, o único funcionário fixo.
Foi muito difícil entender as palavras daqueles chilenos. Eles falam rápido demais. Mas pelo menos entendi que o preço era bom, vi que o lugar era razoável, bem localizado e aceitava cartão de crédito internacional. Como eu tinha trazido poucos pesos chilenos, o fato de aceitarem la tarjeta foi bem interessante. Decidimos ficar por ali. E nos sentimos muito em casa durante toda nossa estada.

Depois do maior trampo pra tirar as malas do carro e ajeitar no quarto, que ficava no andar de cima, tomamos um banho, navegamos um pouco na internet (o hostel tinha dois computadores disponíveis) e saímos pra conhecer a cidade, começando por uma das ruas principais que abriga grande parte do comércio de Viña, a Avenida Valparaíso. Andamos bastante pelo centro e depois fomos até a beira do mar ver pela primeira vez as águas do oceano Pacífico. Conversamos com dois caras que logo adivinharam que éramos brasileiros (como?), tiramos algumas fotos e passamos pelo Cassino Viña Del Mar, onde Marcel prometeu voltar numa das próximas noites pra tentar a sorte na jogatina.
Escolhemos um Tenedor Libre (self service) para jantar, pois a fome era grande. Aparentemente o lugar parecia “ajeitado”. Comemos bastante, tomamos vinho. Pra mim, tava tudo beleza, mas vi que havia algo errado com Marcel, ele tava com “cara de quem comeu e não gostou”.Passando mal
Voltamos pro hostel pra descansar um pouco e terminar de ver nossos e-mails. Orkut, Facebook e MSN, nessa época, eram coisa do brother. Eu relutava em me abrir ao mundo digital, permanecendo semi-analfabeto nesse quesito. Um pouco por falta de tempo, interesse e dinheiro sobrando pra me dedicar à banda larga; outro pouco por revolta sem causa... Coisa de (pseudo) cientista social mal resolvido e/ou frustrado. O importante é assumir os defeitos, e tentar mudar. Hoje tamo aí até “pagando” de blogueiro.
Cansados e um pouco desanimados, fomos pra noite, “na raça”, a pé mesmo. Entramos num Pub muito louco, muito underground, o Balmaceda Bar, que fica no comecinho da Avenida Valparaíso.
Esse lugar escuro, porém, alegre, possui dois ambiente, um embaixo outro em cima, que só funciona em alguns dias da semana. Nessa segunda-feira somente o primeiro ambiente estava aberto. Havia muita gente ali e logo quando entramos vimos algumas meninas dançando reggaeton sobre as mesas. Quase um show de strip tease. Sentamos num canto, pedimos uma cerveja Cristal (a chilena) e ficamos só fitando. No Chile as garrafas são de um litro e a tampa é de plástico, tipo tampinha de garrafa pet.
A baladinha estava mesmo muito louca e nós dois parecíamos peixes fora d’água. A galera dançava o reggaeton de modo muito sensual, dois homens com uma mulher, duas mulheres com um homem, tipo sanduíche. Um sujeito, que, entre nós, apelidamos de Valdívia, el mago (em referência e devido às semelhanças físicas que encontramos entre ele e  jogador chileno que joga no Palmeiras), nos chamou a atenção, especialmente. Ele usava um chapéu grande, tipo chapéu de mágico mesmo (era isso, Marcel?) e dançava que nem louco com todas as meninas, mas na hora H outro cara da turma vinha e ficava com a garota e ele saía cabisbaixo. Acho que de tão frustrado nosso mago acabou indo embora antes que todo mundo.
Nós também não demoramos muito a sair dali. A tosse comprida e insistente do Marcel, que o acompanharia por vários dias, estava começando. Pois é, o city tour sem agasalho em Córdoba, a travessia das cordilheiras de camisa de manga curta e o jantar no Tenedor Libre Chileno começavam a fazer efeito. A gripe equestre vinha aí!

Então saímos rumo ao hostel, mas um sujeito na rua nos entregou um cartãozinho com o endereço de uma dessas casas de mulheres, sabem? Eu estava meio bêbado, confesso, e insisti pro brother que fazia parte do nosso roteiro turístico conhecer um lugar assim no estrangeiro. E fomos. Acabei dando mais trabalho que meu amigo dessa vez. Mas, óbvio, vou ocultar os detalhes. Se quiser comentar, fique a vontis, Marcel, mas lembre-se que posso publicar ou não a mensagem, dependendo do teor da mesma. Rindo a toaRindo a toaRindo a toa  


O Hostal Cristina.

Bela construção.


Rua sem saída. Que ladeira!



11/05/2010



Valparaíso

- cidade chilena litorânea, conurbada com Viña del Mar;
- Viña é mais moderna, Valparaíso mais histórica, mais tradicional;
- chamada de Valpa; conhecida como la joya del Pacífico (a jóia do Pacífico);


Nossa ideia era ficar dois dias em Viña/Valpa e dois dias em Santiago. Mas desanimávamos só de pensar em carregar todas aquelas malas no carro e descarregar de novo. Então decidimos dormir todos os dias no Hostal Cristina e fazer um bate-volta pra Valpa e outro pra Santiago.
Na terça-feira cedinho acordamos e partimos de metrô pra Valparaíso. Tivemos que comprar o cartão de passagem que não custava muito barato, pois eles não vendem bilhetes avulsos. Você tem que comprar o cartão e depois colocar a quantidade de créditos que quiser.
 Em pouco tempo chegamos à estação central. Nos meus bons tempos daria pra ir a pé em menos de uma hora. Andamos sem rumo pela histórica cidade, cheia de morros com casas coloridas. Tiramos algumas fotografias e depois fomos até o mercado (tipo mercadão central). Nunca vi tantas barracas com tamanha variedade de frutas. Compramos alguns tipos de uvas, bananas, queijo. Nunca vi também tantos gatos concentrados num só lugar. Tava olhando pros produtos... De repente via um gato ali parado me mirando en los ojos. Que coisa sinistra.
Tentamos fazer um circuito cultural/religioso por igrejas e museus, mas praticamente todos estavam interditados devido aos abalos sofridos pelo terremoto. Como eu disse, Valpa ficou bem mais estragada do que Viña com o tremor de fevereiro. Entramos em um galpão onde havia várias bancas de artesanato. Comprei algumas lembranças, cartões postais, etc. Marcel comprou uma bufanda (cachecol) daUniversidad Católica do Chile (Los Cruzados), clube com o qual o São Paulo Futebol Clube disputou uma das três Libertadores que conquistou. Fizemos amizade com a vendedora  Cláudia, torcedora da Católica, que nos contou o perrengue que passou no dia do terremoto, quando aquele prédio em que estávamos quase veio abaixo.
Passei a admirar mais o povo do Chile depois de conversar com aquela mulher. O chileno está (tem que estar) sempre pronto pra recomeçar. Sempre com a expressão séria, mas com um sorriso inconfundível, num misto de alegria, fé e resignação.  Povo patriota, raçudo! Dale Chile!! Fuerza Chile!

 
 Valparaíso: casas sobre o morro (cerro); monumento da colônia britânica em homenagem à Valpa; gato do mercado central; troleibus.

Pouco depois das 13h00 voltamos pra Viña, novamente de Metrô. Marcel passou no McDonald’s pra comer algo, eu passei batido, sem almoço (regimão). Deixamos as compras (frutas, pães, queijos) no hostel e fomos tentar molhar os pés no gelado oceano Pacífico e esperar o sol se por no mar, já que no nosso Brasil só dá pra ver o sol nascer “das águas”.
Pois bem, depois de muito ensaiar entrei no mar (só os pés). Marcel tentou molhar só as mãos (a gripe equestre tava apertando), mas uma onda lavou seus sapatos e parte de sua calça com a água salgada.
Depois ficamos sentados nas pedras, à beira-mar. O tempo estava bem nublado e quase não se via o sol. Fomos abordados por algumas ciganas que queriam tirar dinheiro da gente de qualquer jeito. Quando conseguimos nos livrar delas, duas garotas que estavam sentadas ali perto fizeram sinal pra gente, comentando algo sobre a insistência das ciganas. Fomos até as chileninhas e travamos boa amizade. Garotas simples, um pouco tímidas, ficaram impressionadas com nossa viagem. Disseram que gostariam de conhecer o Brasil. Estávamos no maior papo com elas quando um cara do meio da calçada grita pro Marcel: “Ei brother, você é brasileiro, é são-paulino?”. Marcel estava com a jaqueta da Torcida Independente do São Paulo e chamou a atenção do sujeito. Enquanto os dois trocavam abraços e lembranças das glórias tricolores aproveitei pra gastar meu espanhol com as garotas. Eu estava ficando mais confiante. Yes!


Não conseguimos boas fotos do pôr do sol devido ao céu encoberto pelas nuvens, mas voltamos pro hostel mais felizes do que quando saímos. Tomamos aquele banho e saímos de novo, rumo ao Balmaceda Bar, claro, certos de que faríamos novas amizades. E não é que no caminho da Pub um sujeito, ao nos ouvir falando em português, disse: “Que que cêis tão perdidos por aqui?” Putz, simpatizamos com o figura na hora. Grande Diegão. Nascido no Brasil, filho de mãe chilena e pai brasileiro (ou o contrário? Me ajuda aí Marcel). Estava mudando pra uma casa ali perto do hostel. Ajudamo-lo a levar a tralha de roupas pra dentro da casa e a montar uma cama, único móvel que possuía.
  
Falamos que estávamos a caminho do Balmaceda e ele fechou conosco. O movimento do bar estava menor que no dia anterior. A galera estava menos ouriçada também, nada de danças sobre as mesas ou “sanduíches”. Diegão deu umas dicas de como chegar nas chiquias(uma variação chilena do termo chicas – meninas) e falou um pouco sobre sua vida no Chile. Trabalhava em um restaurante chique, chefe de cozinha. Ensinou também uns passos de reggaeton. Acabou surtindo efeito, conseguimos nos aproximar melhor das meninas e como estávamos alegres e confiantes, deu rock na certa, aliás, reggaeton na certa!
Marcel estava com a bufanda dos Cruzados e atraiu a atenção de um fanático torcedor da Universidad Católica, o Rodrigo (ou Rodriguito, apelido que lhe demos), de quem ficamos amigos também. Ele falou que odiava os argentinos e gostava dos brazucas. Fiz umabroma com ele, falando que meus pais eram argentinos, ele ficou muito sem graça, mas logo desmenti. Noite agradabilíssima passamos ali com nossos novos amigos.


 Marcel e Rodriguito em frente ao Balmaceda Bar no dia 11/05/2010; Marcel, Diegão e eu, dentro do Balmaceda, na despedida, dia 13.



12/05/2010

Destaque:

Libertadores da América
(Jogos de ida, Quartas-de-Final)
Flamengo 2 3 Universidad de Chile  (La U) - 19h30
Cruzeiro 0 X 2 São Paulo -  21h50
           

A gripe equestre se consolida

 Depois da balada forte da noite anterior, foi difícil acordar cedo na quarta-feira. Mas eu tinha decidido tirar aquele dia pra rasgar a cidade caminhando e, num esforço de ex-futuro-maratonista, às nove horas da manhã eu estava acordado, lavado e trocado, em pé, pronto pra sair.
Convidei o Marcel, que estava semi-acordado, pra ir junto, mas ele não tinha condições, estava com muito sono e muito mal de saúde, com febre, meio delirando, suando pra caramba (e olha que a temperatura devia estar na casa duns 15 graus).
Ele disse ter passado muito mal durante a noite, tossindo seco, sonhando acordado, imaginando coisas estranhas. Eu falei: “velho, isso é efeito dos abusos que estamos cometendo, o city tour em Córdoba sem agasalho, as baladas constantes regadas à cerveja gelada, a travessia das cordilheiras que o senhor fez de manga curta...” O brother pensou, pensou, pensou mais um pouco e, meio que num delírio, disse: “lembra daquela  carne estranha que comemos no tenedor libre aqui em Viña, logo na segunda-feira em que chegamos? Pois então, acho que sonhei essa noite que aquela carne era de cavalo, aliás, daquele cavalo morto que vimos na travessia das cordilheiras * e tenho certeza que só posso estar passando mal assim por conta disso”.
Eu parei e pensei um pouco naquilo tudo que ele tinha dito, nas péssimas condições em que demonstrava estar e, meio que num delírio também, tive certeza de que ele tinha razão.  Aquela gripe, com aqueles sintomas estranhos, não podia ser fruto apenas dos nossos abusos e do frio. Havia algo além...
Pudemos confirmar posteriormente que realmente tínhamos inaugurado uma nova gripe. O Marcel acabou passando-a pra mim e depois nós dois a transmitimos a algumas pessoas com quem tivemos contato ao longo da viagem e depois dela também. Temos certeza disso, pois essas pessoas apresentaram sintomas parecidos com os que nós tivemos. É fato: depois da gripe suína e da gripe do frango, vinha aí a gripe equestre, diretamente da carne de cavalo comida pelo Marcel num dos Tenedores Libres (restaurante self service) da Avenida Valparaíso, em Viña del Mar!!

OS SINTOMAS:
- Sintomas gerais: parecidos com o da gripe comum, porém, mais acentuados.
- Sintomas específicos (que predominam, sobretudo, das 22h00 as 10h00): sudorese aguda; febre com picos de 40,5 graus; tosse longa, a princípio seca; delírios e sonhos com animais, principalmente com cavalos.

O COMBATE
- Além de tomar os tradicionais remédios que combatem os sintomas, é importante a força psicológica, a certeza de que a melhora virá e a resignação perante os fatos, já que a doença é incurável, vai e volta, mas aparentemente não mata. E o mais importante (conosco deu certo) não desistir das noitadas e baladas, jamais!


Mesmo vendo meu amigo naquela situação, desnaturado que sou (ou era, pois evoluí um pouco de maio pra cá) saí pela cidade e o deixei ali agonizando. Passeei pelas ruas, pelas praças, por uma galeria de artesãos, por vendedores ambulantes de quem comprei uns pares de cuecas, por igrejas (algumas interditadas). Mas o que mais me impressionou foi o Parque Quinta Vergara. Há ali um anfiteatro gigantesco, à prova de terremotos, que no verão recebe grandes nomes (Shakira, por exemplo) e grandes eventos. Tem museu, coreto, monumentos em homenagem a artistas como Pablo Neruda e muitas áreas verde.
No meio da tarde, após comer um completo (hot dog gigante) numa lanchonete tipo chinesa, voltei pro hostel. Marcel estava um pouco melhor, mais disposto, mas ainda capengava. Ele quis sair um pouco pra espairecer e eu o acompanhei. Passamos por uma farmácia e depois fomos até os ambulantes onde eu havia comprado as cuecas, pois ele também estava precisando. Foi a pior compra da viagem. Por parecerem muito pequenas compramos tamanho GG, mas, quando fomos experimentar, mesmo as maiores ficaram apertadas, tipo cuecalcinha, diria o brother.  
Marcel queria ir até o cassino, eu não estava muito afim. Mas como ele estava mal, esse podia ser o último pedido de um moribundo, então resolvi ir junto. E não é que o filho da mãe ganhou um troco bom, recuperando o que tinha perdido no cassino de Puerto Iguazu, e prometeu pagar a noitada, caso continuasse vivo após o cair do sol.

Depois de descansarmos um bocado na pousada e do Brother reagir um pouquinho à gripe, fomos à luta novamente. A Universidad de Chile (não confunda com Universidad Católica do Chile, são dois clubes rivais) havia acabado de derrotar o Flamengo em pleno Maracanã pelas Quartas-de-final da Libertadores. Ainda teria o jogo de volta na semana seguinte em Santiago, mas os torcedores não se contiveram e saíram pelas ruas a comemorar o maracanazo. Eu entrei no embalo dos caras, porque não havia engolido a eliminação que os rubro-negros haviam imposto ao meu Coringão.

Depois de ver e participar da festa dos chilenos, fomos pra “festa do Marcel”. O São Paulo ganhou do Cruzeiro por 2 a 0 em pleno Mineirão, também pelas Quartas-de-Final da Liberta. Assistimos ao primeiro tempo num restaurante e ao segundo num bar, tudo pago pelo empolgado são-paulino que me acompanhava na viagem.
A saideira foi no Balmaceda Bar, claro. Estava lotado, mas tinha muito mais homens que mulheres. Entre esses homens um torcedor do Colo-Colo (time de futebol mais popular do Chile) que assistia solitariamente à partida de seu clube numa pequena televisão que ficava dentro do bar. O Colo-Colo perdia por três a zero, mas ele insistia em cantar as musicas da torcida organizada deles, a Garra Blanca, da qual tinha inclusive uma tatuagem no braço. O cara encanou com a gente, vinha falar de futebol no nosso ouvido, gritava, maior fita. Mas também sobraram umas chiquias pra treinarmos o reggaeton.

           
Entrada do Parque Quinta Vergara: homenagem a Neruda.


Reloj de Flores, um dos cartões postais da cidade.



*Cavalo morto na travessia dos Andes – esqueci de mencionar no post devido, mas quando fizemos a travessia das cordilheiras, ainda do lado argentino, vimos um cavalo morto na beira da estrada, já em início de decomposição.




13/05/2010

Santiago

Destaques Futebolísticos:

Os três maiores clubes de futebol do Chile, cujos símbolos seguem abaixo, são o COLO-COLO, a UNIVERSIDAD DE CHILE (conhecida como La U) e a UNIVERSIDAD CATÓLICA (conhecida como Los Cruzados).
                   

  
Antes das 9h00 estávamos na estrada, rumo a Santiago. Sabíamos que havia um sistema de pedágio interno dentro da capital chilena, controlando os carros pelas placas, por radar, e poderíamos ter algum problema. Por isso nossa intenção era deixar o carro fora do perímetro de cobrança da taxa e rodar de ônibus, de metrô e a pé pela cidade.
A estrada que liga Viña/ Valpa a Santiago é muito boa, toda duplicada. A paisagem da beira da pista é muito bonita, com trechos levemente montanhosos. A região é muito urbanizada, com muitas áreas conurbadas.
Paramos o carro num supermercado que fica logo na entrada oeste, salvo engano, de Santiago, antes da área de cobrança do pedágio. Compramos algumas coisas pra justificar o estacionamento, pedimos informação e partimos de ônibus rumo ao centro. O sistema de pagamento de passagem era igual ao do Metrô de Viña Del Mar, ou seja, havia necessidade de ter um cartão e colocar a quantidade de créditos desejada. Como não possuíamos o cartão, o motorista deu um sinal para passarmos sem pagar.
Estava frio quando saímos de Viña e por isso eu usava uma toca do Corinthians. Tirei a toca e a deixei sobre um banco quando fui pedir algumas informações pra um rapaz de terno que estava sentado num dos bancos do meio. Ele disse que ia descer bem no centro, que poderíamos acompanhá-lo.  Descemos com ele, mas esqueci minha toquinha no ônibus aborrecido. O cara foi muito bacana, nos deu algumas dicas e disse pra tomarmos cuidado com os assaltos. Se ele conhecesse o Brasil...
           
Caminhamos bastante antes de escolhermos um lugar pra almoçar. Chamou-me a atenção uma exposição que retratava a geografia do Chile e alertava sobre a necessidade da preservação ambiental. Almoçamos num restaurante simples. Vimos várias as pessoas que trabalhavam na região central entrando ali e imaginamos que seria bom. Fomos atendidos por um sujeito excêntrico, algo parecido com o corcunda de Notre-Dame. Ele tinha algum tipo de deficiência, mas foi muito eficiente no atendimento.

Tiramos algumas fotos em frente ao Congresso Nacional, em frente à Praça das Armas, entramos no Centro Cultural Palácio de La Moneda, onde haviam várias salas com exposições, mas a mais interessante foi a da China Antiga, que contava com algumas peças do Exército de Terracota*. Em termos culturais, a andança por Santiago foi a melhor parte da viagem. A arquitetura, o clima nublado, os museus...

Palácio de la Moneda

  
Visitamos ainda a catedral de Santiago. No caminho o corpo de bombeiros fazia uma apresentação, divulgando a valentia dos homens que abraçam essa difícil profissão num país em que os terremotos e outras tragédias naturais são tão comuns. Pensamos em um city tour, mas o preço era absurdo, então resolvemos encerrar nossa passagem por Santiago visitando um dos estádios de futebol da cidade. Como o Estádio Nacional estava interditado, decidimos ir até o campo do Colo-Colo.
Fomos de metrô, lotado, principalmente na volta. Marcel é paulistano e disse que nem em São Paulo havia visto tamanha lotação. O passeio pelo Colo-Colo foi bem legal. Fica num bairro afastado e dá pra ver as cordilheiras dos Andes ao fundo do estádio.
Antes de voltar pra Viña, comemos uns pasteis em frente ao mercado onde havíamos deixado o carro. A noite nos encontramos com o Diegão para fazermos a triste e embriagada despedida. Esquentamos os tambores num bar próximo e terminamos a noite no Balmaceda Bar, óbvio!


Abertura da exposição "La antigua China"

Exército de Terracota* - Descoberto em 1974. Fazia parte do mausoléu do Imperador Quin Shi Huang. Os chineses acreditavam na vida além túmulo e criaram esse exército de mais de 7.000 estátuas de guerreiros, carruagens e cavalos, todos de tamanho natural, feitos de terra e argila. Foram posicionados estrategicamente no mausoléu do Imperador Quin, para defendê-lo após a morte.