AUTOR: DANIEL GALERA
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS, 2008.
PANO DE FUNDO: BUENOS AIRES
Alguns livros me arrebatam de tal forma que quero entrar dentro deles, escorregar pelas suas páginas, fazer parte das palavras escritas ali, ser um de seus personagens. Livros desse tipo, costumo ler rapidamente. Um, dois, três dias e jaz. Fim das páginas. Uma vez terminada a leitura, me dá vontade de chorar, pois sei que a partir dali ficarei órfão e solitário na ilusão que nós, eu e o livro, geramos. Mesmo me sentindo abandonado e sozinho, porém, continuo por mais um tempo em estado de arrebatamento. Vou trabalhar vivendo a atmosfera do livro, falo com as pessoas pensando no livro, entro em bares e festas imaginando que os personagens do livro poderão estar ali. Pior...Quero agir como imagino que o personagem que escolhi pra representar agiria em certas situações do meu cotidiano. Livros assim são como amores fugazes.
CORDILHEIRA, de Daniel Galera (recomendo também MÃOS DE CAVALO, do mesmo autor), que li agora, entre 27 e 28 de dezembro, me arrebatou de forma inédita. Conta a história de Anita van der Goltz Vianna, uma escritora precoce que desistiu da profissão e agora quer ser mãe a qualquer custo. Devido às negativas de seu namorado em engravidá-la ela o abandona em São Paulo e cede ao convite de uma editora argentina que recentemente publicou seu livro em espanhol, partindo para Buenos Aires, a fim de falar um pouco sobre sua obra, a fim de dar um novo rumo à sua vida.
Narrado na maioria do tempo em primeira pessoa, na voz feminina de Anita, a história me fez conhecer uma Buenos Aires diferente da que sempre vi e imaginei e isso fez a cidade me parecer mais fascinante ainda. Me apaixonei absolutamente pelo livro, pela metrópole porteña que ele desvenda e pela personagem-narradora. Passei uma noite em claro na sacada do apartamento onde moro, tomando latas e mais latas de Bavária Premium, olhando as ruas de Ribeirão Preto, tentando encontrar Anita em alguma calçada, em alguma janela. Procurei por ela em bares e restaurantes, tentei imaginá-la no corpo das mulheres por quem me apaixono a todo instante e me desinteresso depois, mas não a encontrei.
Um grupo de personagens do livro, o argentino José Holden e sua turma, levam ao extremo o lance de “viver” um personagem. Mas diferentemente de mim, não “vivem” personagens de livros que leram, mas de livros que eles mesmos escreveram. Holden, assim como o personagem de sua obra, procura uma mulher que tenha coragem de fazer determinado sacrifício por amor. Ao ler o livro de Anita tem certeza de que ela é a pessoa que fará esse sacrifício. O interessante é que no livro escrito por ele mesmo seu próprio personagem não encontrou tal mulher.
Holden precisa de Anita para levar a cabo o desejo que nem seu personagem conseguiu realizar. Anita quer ficar grávida e acha que pode usar Holden para isso. O destino se encarrega de fazer com que os dois se conheçam e se envolvam amorosamente. Acompanhar as andanças desse casal pela noite de Buenos Aires tira o fôlego de qualquer um, mexe na rotina de qualquer pessoa. Holden, eu deveria estar aí no seu lugar com uma mulher de nome Anita, ou de qualquer outro nome.
Leia CORDILHEIRA! Mas quando o fizer, desconsidere tudo o que leu nessa resenha sem pé nem cabeça. Faça tua própria viagem. Ande pela cidade com Holden e Anita, sofra pelas mazelas dos dois. Confunda a arte com a realidade, a fantasia com a vida-real, mas esqueça isso que aqui escrevi. No fundo eu só queria desabafar. Quando estou apaixonado, não consigo guardar segredo.
adorei.
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