Interesse Histórico - Os Sete Povos das Missões – também conhecidos como Missões Orientais, por estarem localizados a leste do rio Uruguay - foram um conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas no Rio Grande do Sul. Uma dessas aldeias foi chamada de Santo Ângelo Custódio, atual Santo Ângelo, hoje conhecida como Capital das Missões.
Data: 05 e 06 de maio
Destaque - Libertadores da América: Corinthians 2 X 1 Flamengo
05/05/2010
Nesse dia acordamos cedo novamente. Efetuamos a primeira troca de óleo da pick up durante a viagem num posto em frente ao hotel onde havíamos passado a noite, Hotel Lodi. A manhã estava fria. Um senhor de chapéu tomava chimarrão dentro da loja de conveniência do posto enquanto lia um jornal local. Apesar de nossos olhares curiosos, ele não deu nenhum sinal de que havia percebido nossa presença e nosso interesse.
O tempo permanecia nublado. Eu estava angustiado, algo me dizia que o dia não seria bom. Eu havia esperado tanto por esse mês de maio, por esse outono, torcendo para que o céu sobre nós permanecesse azul e sem nuvens durante toda a viagem, mas isso estava difícil de acontecer. Nuvens negras, nuvens negras e mais nuvens negras sobres nossas cabeças. Havia algo errado, talvez não com o clima (afinal o outono do sul é úmido, diferente do que ocorre no sudeste e centro-oeste), mas comigo.
Deparamo-nos com belas paisagens ao longo do caminho para Santo Ângelo, apesar do tempo feio. A vegetação era bastante diferente do que vemos quando andamos pelo estado de São Paulo com seus imensos canaviais. Havia pouco movimento na estrada e a temperatura foi subindo e ficando mais agradável ao longo da viagem. Fizemos questão de adentrar o território gaúcho ao som dos Engenheiros do Hawaii, conforme já havíamos combinado antes de iniciarmos a jornada. A primeira música que ouvimos? Infinita Highway. A segunda? Ilex Paraguariensis, em referência e homenagem a erva mate e consequentemente às tradições do Rio Grande do Sul. Viva a República Rio Grandense!
Infinita Highway...Novas paisagens, destino, passagem... |
Marcel emocionado nas estradas da República Rio Grandense! |
Chegamos em Santo Ângelo a tempo de almoçarmos. O restaurante era bem amplo e, fomos informados, funcionava também como barzinho e pizzaria à noite. Embora praticamente não tivesse tomado café da manhã, eu estava sem fome. Comemos tranquilamente e saímos em busca dos hotéis que havíamos pesquisado, mas acabamos achando um pelo caminho e como o preço estava bom paramos por ali mesmo. Não havia garagem e tivemos que deixar o carro na rua.
O tempo era curto, então pegamos algumas dicas na recepção do hotel e partimos para tentar conhecer o máximo possível do lugar. A primeira parada foi no Memorial da Coluna Prestes, que fica na antiga estação ferroviária da cidade. Ali é contada, através de textos, fotos, esculturas e objetos, a história do movimento militar e político liderado por Luís Carlos Prestes que pretendia difundir pelo Brasil ideais revolucionários (voto secreto, ensino público, melhoria da condição de vida dos mais pobres, etc.). A Coluna Prestes percorreu cerca de 25.000 km por todo o país, entre 1925 e 1927, mas infelizmente não conseguiu o apoio popular necessário para instaurar a revolução nessas terras tupiniquins de gente tão passiva. Não nos lembrávamos de ter lido ou visto que Santo Ângelo possuía tal memorial, de modo que para mim e para Marcel, partidários que somos dos ideais da esquerda e do socialismo, aquilo foi uma grata surpresa.
Aproveitamos para visitar também o Museu Ferroviário do município, que fica ali ao lado. Fomos recebidos por Jovenil, um ex-funcionário da estação que hoje se dedica a preservar a memória desse período áureo que ficou perdido no tempo. Impressionante como aquele senhor se emocionava ao falar de seu passado, do passado da ferrovia. Impressionante como nos emocionávamos ouvindo a voz cansada, porém, vivíssima daquele homem. Foi um grande prazer conhecê-lo, mestre Jovenil!
Memorial da Coluna Prestes. |
Eu e Mestre Jovenil no Museu Ferroviário. |
Saímos apressados para ver se conseguíamos visitar o Museu das Missões, mas já estava fechado. Sorte que bem ao lado há um pequeno galpão onde são restaurados objetos de interesse arqueológico relacionados à época das Missões. As duas moças que trabalhavam ali nos deram verdadeira aula sobre a história da região e nos falaram um pouco também sobre o projeto arqueológico do qual faziam parte. Pena que não consegui prestar muita atenção no que diziam. Juro que me esforcei, mas eu estava muito encantado e muito concentrado naqueles rostos, cabelos e olhos que a bela dupla de gaúchas possuía. Mais tarde, arrependido pela minha falta de educação com as gurias, pedi pro Marcel me resumir o que elas tinham dito. Mas ele, malcriado igual a mim, também não havia conseguido prestar atenção.
Já estava quase anoitecendo quando visitamos a igreja conhecida como Catedral Angelopolitana e seus arredores. Aquele complexo arquitetônico parecia um museu a céu aberto contando detalhadamente a história e as etapas das Missões. Marcel dizia se sentir em Barcelona, já imaginando o que encontrará na viagem que fará à Europa em 2011. Infelizmente, ao que tudo indica, não poderei acompanhá-lo nessa próxima trip. Terei que me contentar em rodar, talvez sozinho, pelas montanhas e cidades históricas de Minas Gerais ou, na melhor das hipóteses, em vagar a pé, de ônibus e de trem por Bolívia, Peru e deserto do Atacama, no Chile. Mas isso será assunto para um próximo Blog.
Catedral Angelopolitana. |
Bebemos ainda duas latas de cerveja sentados em frente à igreja antes de irmos embora caminhando lentamente. Deu tempo de tomarmos banho sossegadamente e descansarmos um pouco mais no hotel. Perto das 21h, fomos ao mesmo local em que havíamos almoçado para assistir ao jogo do Corinthians contra o Flamengo pela Copa Libertadores. Encaramos um belo rodízio de pizza.
O jogo todo foi pura tensão. Começamos ganhando por 2 a 0, resultado que nos classificava, mas no comecinho do segundo tempo eles diminuíram pra 2 a 1, resultado que nos tomava a classificação. Daí pra frente foi sofrimento sem fim, até o apito final do juiz. Estava explicada minha sensação ruim logo pela manhã. Eu havia pressentido que novamente seríamos eliminados da Libertadores.
Segurei o choro, a indignação, o desejo de destruir tudo e xingar a todos que estavam ao meu redor. Fiz o máximo pra me controlar. Nossa união de torcidas não havia dado certo dessa vez. Pro Corinthians tudo é mais difícil.
Marcel no fundo de sua alma devia estar feliz e até deve ter pensado em pagar a conta sozinho, como havia feito em São Miguel D'oeste, mas me conhecendo como conhece deve ter desistido da ideia temendo que eu encarasse aquilo como provocação. A caminhada de volta ao hotel foi fria e penosa. Como um time de futebol pode influenciar e determinar tanto o humor e até a vida de uma pessoa? Até o companheiro tricolor se doeu com meu sofrimento, pude perceber, e falou o menos possível. Lembro de ele ter dito: “agora vocês estão com uma estrutura melhor, em 2011 começa tudo de novo; esse ano vocês vão levar o Brasileirão”.
Deitei na cama e chorei de raiva e de dor, confesso. Naquela triste madrugada insone em que tive pena de mim mesmo (que coisa feia) e dos milhões de corintianos espalhados pelo Brasil tomei uma decisão de homem quase adulto: aquela eliminação de Libertadores não iria estragar minha vida, minhas férias, minha viagem ...não iria estragar um dia ou uma noite sequer. Mandei um FODA-SE pro futebol. Ponto final.
Monumento a todos os povos das Missões. Túnel do tempo. |
ai, que delícia! tinha escrito um comentário imenso falando do quanto estou adorando o relato, claro, mas, principalmente, a construção do texto, mas achei melhor só dizer isso. bjo
ResponderExcluirveridiana | veridianasferrari@gmail.com | 21/10/2010 20:40
Ah, República Riograndense...minha grande paixão!!! Ainda mudarei de vez p/ lá... Vamo comigo Fabiones?! Ahn?! Montar uma república em Porto Alegre???!!!
ResponderExcluirMarcel | marcel_somenzari@hotmail.com | 02/11/2010 22:51