17 – “Mi Buenos Aires Querido”

“...pra mim Buenos Aires sempre foi algo mítico. E eu não queria matar essa quimera, mas aumentá-la de tamanho.”

17/05/2010

    Na segunda-feira de manhã, após guardar na mala as meias e cuecas limpas e secas, e de dispensar as medialunas do café-da-manhã, nos largamos felizes de General Villegas. Felizes por termos conhecido a charmosa cidade natal de nosso hermano Fernando e felizes por que naquele dia ainda, por volta de 3 ou 4 horas da tarde, chegaríamos em Buenos Aires.
    Conforme avançávamos pela estrada, o tempo ia ficando mais nublado. Paramos em dois postos de gasolina para tentar completar o tanque mas, por incrível que pareça, um deles não aceitava cartão e o outro só aceitava de uma bandeira que não possuíamos. Estávamos zerados de pesos argentinos e tivemos que entrar numa cidadezinha para tentar cambiar nossos reais no Banco de la Nación local. O banco não fazia câmbio, mas pudemos sacar pesos no caixa eletrônico.
    Chegamos na capital argentina um pouco após o horário que pensávamos. Entramos pelo acesso oeste e a primeira impressão da cidade foi fantástica. As placas iam passando e minha memória resgatando coisas que eu não tinha vivido, mas lido, ouvido, imaginado, inventado. Lembro de placas indicando os bairros de Caballito, Mataderos, centro. Placas indicando as cidades de Avellaneda e Lanús. Um outdoor gigante com os dizeres: “ser hincha es ser de Racing”. Passamos ao lado do estádio do Velez Sarsfield, carrasco do São Paulo na Taça Libertadores de 1994. Tentei tirar uma foto pra enquadrá-la posteriormente e dar de presente pro Marcel, mas não deu tempo.


Placas e sinalizações.

    A Avenida Nove de Julho estava parcialmente interditada por conta dos preparativos para a festa do Bicentenário da Independência Argentina, então demoramos a chegar ao “El Firulete Downtown”, hostel em que ficaríamos. Deixamos o carro num estacionamento próximo e partimos com as malas para o hostel mencionado, que na verdade é um prédio com vários andares. Pra subí-los, nada de elevadores, só mesmo por uma escada em caracol, na raça. Trash.
    Marcel e Flavinha, nossa amiga e prima do professor Fernando, que estava em Buenos Aires também, vinham se comunicando algumas vezes por e-mail durante a nossa viagem e tinham combinado que nos encontraríamos no Hostel Milhouse, em que ela estava, para jantarmos e fazermos alguma balada juntos.  Pois é, jantamos num restaurante bem legal, meio tradicional...Escolhemos a parrillada, que nosso amigo Fernando tanto indicara, mas não nos demos muito bem e acabamos deixando metade do prato. Tinha de tudo ali, desde as carnes “normais” até rim de boi, linguiça de sangue de boi e otras cositas. Aquilo é uma verdadeira mistureba...coisa de argentino verdadeiro mesmo...o brasileiro metido a hermano aqui sucumbiu diante dessa prova e resolveu vestir a camisa amarelinha de novo.

O brother tranquilão, a Flávia com seu bonito sorriso e eu com os olhos arregalados.

    Mais à noite, após digerirmos parte do jantar, fizemos uma pré-balada num outro hostel da rede Milhouse e depois partimos pra balada verdadeira, que ficava logo em frente. Ali, além de desfrutar da agradável companhia de nossa amiga Flavinha, pudemos conhecer alguns figurassas que estavam hospedados no mesmo lugar que ela: um carioca gente boa (coisa rara), torcedor do grande Botafogo (se fosse flamenguista eu daria um jeito de matá-lo e escondê-lo em algum canto escuro da balada); dois franceses (salvo engano), um deles estava com o braço fudido, dolorido (acho que tinha sofrido uma queda) mas não desistia da noitada, o outro, um de óculos, posso dizer que foi um dos caras mais engraçados que conheci na viagem.   Além desses personas, conhecemos um brasileiro chamado Anderson que fez alguns rolês conosco nos dias que se seguiram. Pudemos presenciar também cenas bizarras de quase sexo explícito entre homem/mulher e entre homem/homem também. Que balada doida...


18/05/2010


    Acordei cedo na terça-feira e saí sozinho para andar sem rumo pelo centro de Buenos Aires. Andei que nem bobo pela Calle Florida, ansioso demais por conhecer tudo. Fui a uma casa de câmbio trocar meus reais por pesos argentinos. Encontrei o Marcel, que havia levantado um pouco mais tarde, em frente à Casa Rosada, tirando umas fotos. Lembro até hoje que bateu uma forte alegria ao vê-lo e um pouco de arrependimento por às vezes ser individualista e sair fazendo as coisas sozinho, sem esperá-lo.


La Casa Rosada.

    Comemos algo qualquer e fomos até o final da Florida para fazermos um City Tour a bordo dos famosos ônibus de dois andares da capital argentina. Passamos pelos prédios históricos do centro, por Retiro, Recoleta, fomos até San Telmo, La Boca, Puerto Madero e finalizamos novamente no centro.

    Eu carregava nas mãos o guia de viagens “O melhor de Buenos Aires” que havia dado à Flavinha de presente e que ela educadamente me devolveu (por livre e espontânea vontade) na noite anterior. Eu olhava o mapa do guia, as ruas ao redor e minha memória buscava em seus arquivos mistos, formados metade por histórias lidas/ouvidas/assistidas sobre Buenos Aires e metade por histórias inventadas por mim mesmo, em minhas noites de insônia, em minhas tardes de devaneio... Graças a esse complexo sistema de arquivamento, Buenos Aires não era novidade pra mim. Mas como era emocionante reviver essas histórias não vividas. Como era gracioso e inacreditável estar ali. Não que seja a coisa mais difícil do mundo ir pra lá, mas pra mim Buenos Aires sempre foi algo mítico. E eu não queria matar essa quimera, mas aumentá-la de tamanho.

    À noite decidimos ir até o bairro Palermo fazer uma balada. Levamos conosco o grande brother Vladimir, o Vlad, um brasileiro de Rondônia que conhecemos no hostel, torcedor do pequenino Internacional de Porto Alegre. Ele estava viajando sozinho, e dali pra frente se tornou o terceiro integrante da Trip, como veremos. Foi conosco também outro brasileiro que conheci no hostel, do qual não recordo o nome (Marcel, você que teve uma relação mais íntima com o tipo se lembra o nome dele???).


    A balada estava muito bacana, cheia de gente. O único problema é que o tipo de quem não me lembro o nome, após tomar umas botellas começou a se revelar um grande Rick (apelido que demos aos afeminados que conhecemos ao longo da viagem, e não foram poucos, em referência a certo jogador de futebol). Primeiro mirou Marcel, que educadamente o dispensou, depois mirou a mim, que estupidamente quase o expulsei do lugar, e por último mirou o Vladimir, que era bombeiro. Aliás, quando Rick soube que Vlad era bombeiro seus olhos quase viraram de tanto brilhar.

    Outra ocorrência desagradável foi nosso encontro com dois torcedores do Club Atlético Velez Sarsfield, eterno algoz do São Paulo Futebol Clube . Um deles utilizava uma camisa regata comemorativa de alguma festa de Ribeirão Preto. Ele disse que havia vindo pra cá (pro Brasil) tempos atrás. O problema é que Marcel estava com o cachecol do Independiente e os dois malucos grudaram na gente, cantando as músicas do Velez, cuspindo, gritando e ainda quiseram afanar o cachecol do brother. Fora isso a balada foi 100%. E a madrugada de sono também, afinal amanhã seria o dia do futebol., visitaríamos o grande Racing em Avellaneda e depois o estádio La Bombonera, do médio Boca Juniors.


Eu e o brother. Ao fundo, o Obelisco. Quando o Racing foi campeão em 2001, teve gente escalando esse negócio aí.


Mi Buenos Aires Querido
Composição: Carlos Gardel e Alfredo Le Pera

Mi Buenos Aires querido,
cuando yo te vuelva a ver,
no habrá más penas ni olvido.
El farolito de la calle en que nací
fue el centinela de mis promesas de amor,
bajo su inquieta lucecita yo la vi
a mi pebeta luminosa como un sol.
Hoy que la suerte quiere que te vuelva a ver,
ciudad porteña de mi único querer,
oigo la queja de un bandoneón,
dentro del pecho pide rienda el corazón.
Mi Buenos Aires, tierra florida
donde mi vida terminaré.
Bajo tu amparo no hay desengaño
vuelan los años, se olvida el dolor.
En caravana los recuerdos pasan
como una estela dulce de emoción,
quiero que sepas que al evocarte
se van las penas del corazón.
Las ventanitas de mis calles de Arrabal,
donde sonríe una muchachita en flor;
quiero de nuevo yo volver a contemplar
aquellos ojos que acarician al mirar.
En la cortada más maleva una canción,
dice su ruego de coraje y de pasión;
una promesa y un suspirar
borró una lágrima de pena aquel cantar.
Mi Buenos Aires querido....
cuando yo te vuelva a ver...
no habrá más penas ni olvido...


Avellaneda, La Boca, San Telmo...

19/05/2010

    Saímos logo de manhã rumo à Avellaneda, eu, Marcel e nosso amigo Vlad, para conhecermos os estádios do Racing e do Independiente, que ficam bem próximos um do outro. O motorista, aparentemente mau humorado, foi bacana, deu um sinal no ponto onde deveríamos descer e explicou rapidamente como chegarmos ao Racing. Meu coração bateu forte quando avistei el cilindro de Avellaneda, o campo do glorioso Racing Club, la Academia.
    O estádio estava interditado para as reformas de meio de ano, pois o campeonato havia terminado naquela mesma semana. O pessoal da portaria não queria me deixar passar, mesmo eu falando de todo amor que sentia pelo clube. Marcel entrou na conversa, esperneou, disse: "amigo, você não está entendendo, esse cara aqui é o maior torcedor do Racing do Brasil, ele chora por esse time e veio de longe só para visitá-lo". O porteiro indicou uma porta, pedindo que eu falasse com o responsável. Fui até lá sozinho. O cara tomava chimarão e estava iredutível, mas deve ter lido no meu olhar que eu era um Racinguista legítimo, de coração azul e branco, de alma acadêmica, e me deixou entrar no estádio para tirar umas fotos.
    O estádio estava meio abandonado, mas foi lindo estar ali, imaginar as partidas que eu acompanhara pela internet, relembrar coisas que eu havia lido. O estádio Presidente Perón é o segundo maior da Argentina, perdendo apenas para o Monumental de Nuñes, do River Plate. Mais abaixo explicarei como nasceu a paixão por esse clube maravilhoso da cidade de Avellaneda, região metropolitana de Buenos Aires.
    Tentamos depois visitar o estádio do Independiente, o Rojo de Avellaneda, que fica a 50 metros do Racing, mas estava interditado também e não nos desgastamos insistindo em entrar ali, aliás, creio que eu não entraria nem se estivesse aberto, esperaria os meninos do lado de fora. Entrar no estádio do rival? Jamais!


Estádio Presidente Perón, el Cilindro de Avellaneda. Alumbramento total. Nenhum time representa tão bem a Argentina. Pelas cores, pela paixão da torcida!

A paixão pelo Racing

    Já não é segredo para quem me conhece a admiração espontânea que nasceu e vive em mim em relação ao futebol e às torcidas argentinas. Lembro-me vagamente do Racing conquistando a Supercopa dos campeões da Libertadores em 1988, mas não foi esse triunfo que determinou minha escolha pelo time azul e branco de Avellaneda. Em 1999 o clube foi à falência, chegou a ser fechado. Cerca de 30 mil torcedores invadiram o estádio para apoiar o clube (detalhe, a invasão ocorreu num dia de semana). Nessa mesma época, o time albiceleste perdeu de 7 a 0 para o Palmeiras pela Copa MERCOSUL no Parque Antarctica.  Os cerca de mil torcedores vindos de Avellaneda, apesar da derrota vexatória, cantaram mais que os palmeirenses o jogo inteiro e lotaram o estádio de Avellaneda no jogo seguinte, não me lembro contra que time. Aquela fidelidade encantou meu coração. O amor havia sido semeado.
    No ano 2000, li em algum jornal sobre os grandes tabus do futebol mundial. Falava sobre o tabu corintiano, quando o alvinegro ficou 23 anos sem ganhar nenhum título. Falava também do Racing, que estava há 34 anos sem ganhar o campeonato argentino. O amor semeado brotou. Em 2001 acompanhei todo o campeonato, jogo a jogo, levando fé que o tabu acabaria e no dia 27/12/2001, 35 anos depois, o Racing sagrou-se campeão! La Academia albiceleste triunfara novamente. Peguei minha bicicleta e saí andando pelas ruas de Araraquara com vontade de festejar. Do fundo do coração, acredito que minha torcida aqui do Brasil foi determinante naquela conquista. E até hoje acompanho o Racing quase tanto quanto acompanho o Corinthians. Um confronto entre os dois dividirá meu coração, certamente.



    De Avellaneda ao bairro La Boca é um pulinho. Andamos pelo caminito, falamos com as pessoas, compramos regalos, visitamos o estádio La Bombonera, tiramos fotos com a dançarina de tango...faltou pegar seu telefone. Passamos ainda pelo charmoso bairro San Telmo onde conhecemos o Parque Lezama e paramos para tomar um chopp na bela Plaza Dorrego.

    À noite Marcel foi com o Anderson, que havíamos conhecido na balada do dia 17, assistir o São Paulo ganhar do Cruzeiro por 2 a 0 e passar pra semifinal da Taça Libertadores. Eu fiquei no hostel torcendo contra, mas não adiantou.

La Bombonera no tiembla, late: A Bombonera não treme, pulsa!

El Caminito, la Boca.

Casas coloridas, bonecos gigantes. Alegria, alegria! Isso é La Boca, isso é Argentina!


Fútbol y marihuana. A ver se combina?

20/05/2010

    Passamos a manhã e a tarde andando pelo centro e por Puerto Madero. Estávamos os quatro: eu, Marcel, Vlad e Anderson. Resolvemos algumas questões burocráticas: cambiamos dinheiro e compramos as passagens para o Buquebus, uma super balsa, que nos levaria de Buenos Aires a Colonia del Sacramento, no Uruguay.

    A tardinha voltamos correndo ao hostel para participarmos da excursão que iria até a cidade de Quilmes, ao estádio de futebol dali, onde jogariam Estudiantes de la Plata e Internacional de Porto Alegre pelas quartas-de-final da Libertadores. Eu estava quebrado de grama, mas não iria ficar de fora de um jogo desses, estando ali tão pertinho. A maioria da galera da excursão era europeu. De sulamericano só eu, Marcel e Vlad, torcedor do Inter. Detalhe, iríamos ficar na torcida do Estudiantes.
    A cidade de Quilmes fica mais ou menos na metade do caminho entre Buenos Aires e La Plata. Devia estar havendo alguma reforma no estádio de La Plata, e por isso o Estudiantes resolveu mandar seu jogo em Quilmes. No caminho pro estádio passamos pela famosa cervejaria da cidade. A torcida do Estudiantes (los pincharratas) estava ouriçada, confiante.
    O guia da excursão, um sujeito bem gente boa chamado Júlio, torcedor do Boca Juniors, logo percebeu que eu e Marcel éramos ratos de arquibancada e se aproximou de nós. Trocamos várias ideias, ele disse que conhecia o Brasil e que aqui torcia pro Corinthians e pro Flamengo. Perguntou se no Brasil se fumava maconha nos campos de futebol. Eu disse que sim. Ele disse que não, que na Argentina se fumava muito mais, era muito mais comum e que a maconha brasileira era de péssima qualidade. Perguntou se gostaríamos de dar uma pitada. Eu não perderia a chance de fumar um porro em pleno estádio de futebol, em plena Argentina. Respondi: "a mi me gustaría". Fomos pra baixo do segundo lance da arquibancada no intervalo do jogo e demos dois peguinhas cada um, eu e o brother. Ainda ficamos com um restinho pra fumar depois, se quiséssemos.
    O bagulho era forte mesmo. Fazia muito tempo que eu não fumava, aliás tinha resolvido nunca mais fumar (nunca fui viciado, nem de fumar muito, é bom registrar). Fiquei o segundo tempo inteiro doido. Parece que o tempo voou. O jogo estava 2 a 0 pro Estudiantes, mas no finalzinho o Inter descontou e acabou eliminando os donos da casa. Fiquei deprimido, um pouco pelo jogo, um pouco pela marihuana. Ela sempre me deixa assim.
    De volta a Buenos Aires, nos despedimos do Júlio prometendo voltarmos e fazermos um asado em sua casa. Encontramos o Anderson e fomos todos do quarteto para uma balada no hostel Milhouse, onde ele, o Anderson, estava hospedado. Nossa amiga Flavinha já tinha ido embora de volta ao Brasil. No caminho pra baladinha destrinchamos o resto do porro. O tal do Anderson, metido a malandrão, mal chegou na festinha e começou a passar mal. A única frase que ele conseguia pronunciar, em português errado, era: "que que cêis deram pra mim fumá? que que cêis deram pra mim fumá?". O doido ficou estirado numa poltrona enquanto tentávamos curtir a baladinha. Não prolongamos muito a noite porque pela manhã teríamos que partir.


Um autêntico hincha (torcedor) argentino?!?


A torcida do Estudiantes de La Plata. Los Pincharratas.



21/05/2010

Partimos cedo de buquebus rumo ao Uruguay, rasgando o rio da Prata. Faltou conhecer muita coisa em Buenos Aires, faltou inspiração pra escrever mais e melhor sobre essa fascinante cidade. Deixo abaixo a letra de uma música, um eletrotango, estilo musical que, acredito, representa bem a união da face moderna com a face histórica de la ciudad porteña.

Eletrotango ou Tango Eletrônico: conheça Bajofondo Tangoclub e Gotan Project. O som de ambos é maravilhoso, eu garanto.

(vale a pena ver a letra ouvindo a canção)

El mareo
Bajofondo y Gustavo Cerati

Avanzo y escribo
decido el camino
las ganas que quedan se marchan
con vos

Se apaga el deseo
ya no me entrevero
y hablar eso
que se me iba
mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

El agua me ciega
hay vidrio en la arena
ya no me da pena
dejarte que un adiós

Así son las cosas
amargas borrosas
son fotos veladas
de un tiempo mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

El aire me ciega
hay vidrio en la arena
ya no me da pena
dejarte un adiós

Así son las cosas
amargas borrosas
son fotos veladas
de un tiempo mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar.


Um comentário:

  1. eeeeeeeeeeee, muito bem!
    ficou otimo!

    eu só acho que devia ser um post por texto. rs, mas aí ja to palpitando demais - como sempre.

    bjo

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