16 – Volver




14/05/2010

Destaque:

SODA STEREO – Banda argentina formada em 1982 por Gustavo Cerati, Hector Bosio e Charly Albert. Permaneceu em atividade até 1997. Considerada por muitos a maior banda argentina de rock in roll de todos os tempos e certamente uma das principais da América Latina. Em 2007 seus integrantes se juntaram novamente para fazer uma mega-turnê continental, chamada Me verás volver que, me parece, não passou pelo Brasil. Infelizmente em nosso país a barreira idiomática dificulta a entrada da cultura hispano-americana.

O líder da banda, Gustavo Cerati, sofreu um AVC em maio desse ano (justamente quando viajávamos por seu país) após fazer show em Caracas e ainda se encontra em estado crítico, respirando através de aparelhos. Vale uma oração por ele!



      A sexta-feira amanheceu fria e chuvosa. Deu vontade de ficar dormindo, mas era hora de voltar à Mendoza e reencontrar nossas amigas. Era hora de volver a Argentina. A travessia das cordilheiras foi tensa. Conforme íamos subindo, a chuva se transformava em neve. Pouco antes de chegarmos aos caracoles paramos em uma oficina de beira de estrada que vendia cadenas (correntes que devem ser colocadas nos pneus para o carro não escorregar na neve) para perguntar se as que tínhamos serviam. O senhor que nos atendeu tremia de frio e fumava um cigarro atrás do outro. A friaca estava absurda e nós ali, naquela oficina surreal, no meio do nada, no meio das Cordilheiras dos Andes. Cena de filme. Tenho saudade daquele momento, do frio gostoso que passei ali fora do carro, daquele velho chileno mal agasalhado que soltava a fumaça do cigarro pela boca ao falar. Ele disse que nossas cadenas não serviam e nos mostrou as “verdadeiras”, ensinando-nos a usá-las. Cobrou um absurdo, mas como estávamos sem pesos chilenos, ele aceitou o pagamento em peso argentino e ao fazer o câmbio se embananou e acabou cobrando um pouco menos. Mesmo assim ficou caro e no fim das contas acabamos nem usando as ditas-cujas.

      Alguns trechos da estrada estavam parados, por conta da neve e de obras. Passavam primeiro os carros que vinham da Argentina, enquanto os que iam pra lá (como nós) esperavam, depois o contrário. Fomos informados que se a nevasca continuasse daquele jeito, a fronteira seria fechada por tempo indeterminado. Depois, já em Mendoza, confirmaram que ainda pela manhã daquela sexta-feira realmente tinham fechado a fronteira, provavelmente pouco depois de termos passado. Disseram também que em algumas ocasiões o fechamento dura dias. Ou seja, por pouco não ficamos presos no Chile.
      A passagem pela aduana argentina foi tranqüila e mais rápida que pela chilena. Assim que passamos pro lado argentino a nevasca diminuiu e o céu até abriu um pouco, mas não estava tão azul como na ida. Ao final do entardecer dormi e só acordei quando já estávamos quase chegando em Mendoza perto das oito da noite.




Numa das curvas dos caracoles, um novo Libertador da América!


Em outro ponto das cordilheiras, o outro novo Libertador da América!


Guardamos o carro no mesmo hotel em que tínhamos ficado na estada anterior. A galera da recepção ficou feliz ao nos ver. Estávamos deixando amigos por onde passávamos.
           Saímos pra comer algo num dos restaurantes da Peatonal Sarmiento e aquele pra mim foi o melhor jantar da viagem:  pelo atendimento; pela decoração do local; pela bela e sorridente atendente que percebeu nosso resfriado e escreveu num papel o nome de um remédio que, segundo ela, derrubaria até a gripe equestre;  pelo prato escolhido, Bife de Lomo...maravilloso. Vinho pra acompanhar, claro!

 No horário combinado as meninas nos pegaram no hotel e nos levaram a um bar temático de futebol e depois a um boliche. Fiquei impressionado, desacreditado de como nos tornamos amigos daquelas garotas, de como nos sentíamos confortáveis, à vontade, seguros, em casa, perto delas. Passamos grande noite, regada a Cerveza Andes y Quilmes e ao maldito Fernet que tanto amamos (Belén que o diga Bobo). Vale lembrar que eu e Marcel causamos na balada quando o DJ tocou “De música ligera”, do SODA STEREO. Cantamos alto, gritando, emocionados. Demos o nosso melhor espanhol Jóia.Segue abaixo a letra da canção que ganhou duas versões em português, uma dos Paralamas do Sucesso (De música ligeira) e outra do Capital Inicial (À sua maneira). Na minha opinião a versão dos Paralamas é melhor, além de ser mais fiel à original. Aliás, se tem alguém no Brasil que curte e tenta divulgar a música e principalmente o rock argentino este alguém se chama Herbert Vianna, vocal do Paralamas, de longe a banda brasileira mais conhecida na Argentina.



De música ligera
(Cerati/Bosio)

Ella durmió
Al calor de las masas
Y yo desperté
Queriendo soñarla

Algún tiempo atrás
Pensé en escribirle
Que nunca sortié
Las trampas del amor

De aquel amor
De música ligera
Nada nos libra
Nada mas queda

No te enviaré
Cenizas de rosas
Ni pienso evitar
Un roce secreto

De aquel amor
de música ligera
Nada nos libra
Nada más queda

De aquel amor
de música ligera
Nada nos libra
Nada más queda
Nada más queda
Nada más queda
Nada más queda





Compañeros de viaje, hermanos de corazón! Y la Quilmes para sellar todo!


Belén, eu, Marce e Marcel. E Rocio, que tirou a foto! Que grandes pessoas!



15/05/2010

Daquele sábado frio e chuvoso, guardarei sempre na minha memória:

- A aula de Hospitalidade que recebemos das mendocinas;
- O passeio ultra-vip pela Bodega Trapiche;
- A aula de Truco em español, a roda de mate e o intercâmbio músico–cultural (Argentina/Brasil, Araraquara/Mendoza) que fizemos.
- A gratidão e a amizade pelas chicas de Mendoza.

                                              

Uma aula de Hospitalidade            

No fim da manhã de sábado, perto das 11h00, depois de uma madrugada curta pra curar uma ressaca nem tão grande assim, Rocio passou para nos pegar no hotel. Ela estava com seu irmão Emanuel, grande figura, que nos cumprimentou calorosamente com um abraço, como costumam fazer os argentinos com seus amigos. A manhã estava fria, o que era normal, e chuvosa, o que era anormal. “Nós, brasileiros, trouxemos chuva à Mendoza” - brinquei com eles. Após deixar o irmão na farmácia onde o mesmo trabalhava, Rocio partiu conosco para sua casa em Guaymallén, onde fomos recebidos muito educadamente por sua mãe, seu pai, seu irmão mais novo e Belén, que nos esperava. Marce chegou logo depois.
Confesso que estava envergonhado e sem graça pela atenção e receptividade que havíamos recebido das meninas, e agora de sua família. Pensei na minha forma de lidar com as pessoas, tanto com os mais próximos quanto com os estranhos. Não sei se eu teria maturidade e espiritualidade para receber novos conhecidos com tamanha hospitalidade. Creio ter tido verdadeira aula naquele sábado frio e chuvoso. Uma aula pra alma. Algo inesquecível, eterno no coração.
Como chovia, não foi possível fazermos o asado que tínhamos combinado na semana anterior. Então, Belén encomendou algumas empanadas fantásticas, feitas, se me recordo bem, pela mãe de uma amiga. Almoçamos em grande estilo. As empanadas estavam realmente muito boas; o ambiente extremamente familiar, traquilo, com muita energia positiva rolando; a companhia das garotas... dispensa comentários.

           
Bodega Trapiche

Pelo início da tarde fomos fazer a visita na Bodega Trapiche, local onde Belén trabalhava. Marcel, desde a fase de planejamento da viagem já dizia querer conhecer uma bodega em Mendoza, mas jamais imaginou que faria uma visita mais que VIP, como foi a nossa.
Passamos na casa de Carolina (é esse mesmo o nome dela, Belén?), amiga e colega de trabalho de Belén, que guiou nosso passeio. Como a Bodega estava fechada, não havia funcionários nem outros visitantes ali e pudemos vasculhar cada pedaço daquela que é uma das maiores e certamente a mais especial vinícola da Argentina e contar com as explicações de Belén e Carol sobre todo o processo produtivo que ocorre ali.  


Aula de Truco, roda de mate e intercâmbio músico-cultural

Voltamos à casa das meninas e, ainda emocionados e encantados com o passeio pela bodega, formamos uma roda de mate comandada pela graciosa Marce. Enquanto tomávamos o amargo, o didático Marcel ensinava, em español, as argentinas a jogarem o truco brasileiro, com direito aos gritos de “truuuuco, ladrão” / “seeeeis, reboque de igreja velha”. Deu tempo ainda de trocarmos figurinhas musicais. Rocio, ágil como ninguém em seu notebook, gravava música argentina da melhor qualidade em meu pen drive, na pasta que ela mesma criou e denominou “musica argentina para nuestros amigos brasileros”. Em contrapartida, gravava no seu note alguns cd’s meus e principalmente do Marcel, do bom e velho rock nacional e estrangeiro.

À noite, após troca de presentes (vinho para nós e camisas de São Paulo e Corinthians para elas) ainda fizemos a saideira num bar, tipo um PUB Irlandês...
           
* Registro aqui os agradecimentos pelas três garrafas de vinho que ganhamos da família Tudela. Sempre tomamos uns tragos em ocasiões especiais e nos lembramos carinhosa e saudosamente de Mendoza. Pena que as botellas estão acabando...

Algumas experiências nos fazem envelhecer dez anos ou mais em curtos períodos de tempo, pro bem ou pro mal, já dizia Gessinger. O que passamos em Mendoza certamente nos fez crescer espiritualmente alguns anos-luz. Nossa gratidão e consideração são eternas!



16/05/2010

General Villegas

Domingo pela manhã acordamos sem nenhuma ressaca, mas com alguma tristeza por termos que deixar Mendoza. Nos despedimos dos funcionários do hotel não sem antes tomarmos o típico café da manhã composto por chá e medialunas. Estávamos enjoados desse cardápio, mas não nos furtamos de fazermos a última refeição em Mendoza.
Nossa próxima parada seria General Villegas, pequena cidade da província de Buenos Aires com cerca de 30 mil habitantes, terra natal de nosso amigo e professor argentino, Fernando. Iríamos levar algumas lembranças dele para sua mãe, que ainda morava ali.
Diferentemente do que ocorreu na maior parte da viagem, Marcel dormiu durante um bom pedaço do trajeto e me deixo só ao volante, guiando pelos pampas argentinos, sob um céu de brigadeiro, ao som do CD Racional, de Tim Maia, o qual ouvi umas três vezes em sequência.
Chegamos à noite em Villegas e facilmente encontramos a casa da mãe de nosso amigo, que nos recebeu alegremente. Ela havia preparado um jantar para nós: purê de batata e bife a milanesa. Jantamos e conversamos enquanto o noticiário da TV local falava sobre um vídeo pornô caseiro gravado naquela pacata cidade que contava com a suposta participação de uma menor de idade. Estava ocorrendo o julgamento dos envolvidos, o que dividiu a opinião da população. Parte do povo entendia que não se tratava de crime, afinal de contas a menina envolvida na questão, embora fosse menor, consentira na gravação; a outra parte dizia que devido a menina ser menor de idade o fato deveria ser considerado crime e ponto final. E dá-lhe passeata de protesto nas ruas, coisa tão rara no Brasil e tão comum na Argentina.
Entregamos as encomendas de Fernando à sua mãe, carregamos a caçamba de alguns pacotes que ela estava enviando a ele e fomos dar uma volta para conhecer a cidade que nos impressionou pela estrutura, pela arborização, pelo asfaltamento regular. Paramos num hotel a beira da pista para passarmos a noite. Ali pude lavar minhas cuecas e meias sujas, acumuladas ao longo de quinze dias de viagem, e deixá-las secando próximas à calefação. E não é que na manhã seguinte estavam sequinhas! Fala aí brother, você ficou de cara com a improvisação do “escoteiro” aqui, anhhh Riso???

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